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terça-feira, 24 de abril de 2007

Entrevista com o intérprete de Frei Tito nas telonas Caio Blat

A EQUIPE INSERT esteve em uma conversa bem agradavél no último sábado lá na sala Frei Tito de Alencar localizada no Museu do Ceará, com Caio Blat que vive o Frei cearence Tito de Alencar no filme "Batismo de Sangue".

[INSERT] Quais foram os elementos que você usou para compor o personagem?

[CAIO] Entra a nossa pesquisa histórica, todos os livros que guardam a memória do frei Tito. Batismo de sangue principalmente e outros livros e depois todos os elementos de nossa pesquisa, desde que estive em fortaleza, com a família pra tomar conhecimento de como foi a infância do Tito, sua raiz, sua formação, a questão religiosa. E depois uma ajuda de muitos elementos técnicos: o sotaque cearense, tive aulas de violão, porque o Tito tocava.

[INSERT] Sobre o sotaque, você teve muita dificuldade?

[CAIO] Tive, Porque é um sotaque delicado que eu não conheço muito bem, é diferente de outras regiões do nordeste e que a gente não queria que ficasse muito marcado também, a gente queria uma coisa delicada, foi um trabalho sutil e de muita responsabilidade por ta reconstruindo a identidade de todo um povo.


"Acho que o cearense é aquele doce, manso, carinhoso ,
guerreiro
"

[INSERT]Na composição do personagem, você teve que vir para Fortaleza, conhecer cultura, costumes... Gostaria de saber o que mais lhe chamou atenção no “Povo Cearense”?

[CAIO] O que mais me chamou atenção, Eu acho que o povo cearense tem dois elementos na sua personalidade que são muito claros para quem ta vendo ou (vindo)de fora, uma afetuosidade muito grande, o próprio jeito de falar,o sotaque ele tem de um carinho, de uma afetuosidade muito grande e ao mesmo tempo uma força lutadora muito grande uma coisa guerreira. Acho que o cearense é aquele doce, manso, carinhoso , guerreiro.

[INSERT] Sobre o exílio na França, como foi representar esse sofrimento dele ( De Frei Tito )?

[CAIO] É, foi um trabalho solitário. Como o filme foi um processo muito coletivo pois o corpo de dominicanos é um corpo coletivo e no exílio eu tava sozinho foi um trabalho muito em cima desse sentimento de isolamento do Tito, de saudade, tristeza, em cima disso.

[INSERT] Você acha que o filme veio como um “Acorda” para a sociedade partir atrás de mudanças?

[CAIO] Sim, Claro que esse filme trás um resgate dessa historia, pra quem viveu essa época, pra família que luta para preservar o nome do Tito, mas mais importante do que isso é que ele é pra nossa geração o ato de conquistar a ter uma historia, conquistar uma herança histórica de lutas e que a gente não tinha.


[INSERT] Em relação a ditadura,como e quando você acha que a população brasileira vai ter acesso aos arquivos secretos dos tempos de chumbo?

[CAIO] Olha eu acho que a gente ainda não tem perspectiva de ter acesso total a esses arquivos, acho que existe uma possibilidade maior do que a gente ter acesso a eles é deles desaparecerem, tanto tempo que estão tendo para... já sabe que muita coisa já desapareceu então eu acho que mais do que esperar por alguma vontade política pra desafiar o poder militar e mexer nisso eu acho que existe o grande privilegio que é a arte, o cinema já está abrindo esses arquivos.

[INSERT] Poderia falar um pouco mais sobre seus outros trabalhos qual você também está agora com o Filme Baixio das Bestas ?

[CAIO] A legal você perguntou do Baixio das Bestas um filme que vai estrear mês que vem.
Muito bom, muito forte, por que um mergulho na cultura da monocultura, da cana de açúcar lá na zona da mata pernambucana, e aquela zona tem quinhentos anos que é aquela mesma estrutura social, senhor de engenho e os fudidos né, a exploração da terra, a desertificação, isso é muito importante, eu vou até pedir para o Sérgio por que eu quero ir em todos os lançamentos do filme com a camisa do movimento. Por que agora que se está falando muito de novo em etanol, esse puxa, nosso grande novo parceiro industrial, é muito importante, é que porque esse filme mostra o porque de quinhentos anos de cana de açúcar fizeram na zona da mata, é a desertificação, é aquela queimada que acaba com a terra e acaba com a água e a exploração da terra que é uma cultura, de exploração, a terra são as pessoas que tem um caráter desumano, quem é um cortador de cana, que recebe por toneladas, sei lá, vinte centavos, ficam doze, quatorze horas cortando cana. As mulheres...a violência contra as mulheres a prostituição que é fortíssima naquela região.
É muito bom já que estão falando em incentivar a procura das usinas, já que os usineiros são heróis, muito bom por que o Baixio das Bestas vai mostrar que 500 anos de cana de açúcar fizeram com aquela região e com aquelas pessoas.
É um filme que a gente fez como testemunho, ponto pra lá, pra zona da mata, testemunhamos, o que é aquela cultura, o que é aquela exploração, qual o comportamento dos usineiros, senhores de engenhos e botamos isso tudo no filme. O filme é polêmico porque o filme pega o cortador de cana, pega o filho do usineiro, da classe média, pega todo um painel social da vida, dessa cultura da monocultura.
Eu lembro de que quando cheguei a cidade, um caso curioso, quando cheguei ali na zona da mata, passou um filho de usineiro, mauricinho, "agroboy",. De caminhonete, revolver, olhando pra menininhas dos boias frias, qual que ja esta chegando no ponto, e eu cheguei na cidade a primeira coisa que eu pedi foi, gente aonde estão esses “boyzinhos” que eu quero ver, eu vou representar, aonde é que eles vivem, aonde é que eles ficam, eu quero ver. Ai falaram, vai por essa rua aqui, a cidade " deste tamanho" tinha três ruas, você vai por essa rua aqui, segue passa a praça e chega nos ricos, maravilha, cruzei a praça, peguei um carro emprestado, cruzei a rua praça. Ai entrei na rua que tinham me indicado, procurei, procurei. E quando eu vi acabou a rua. Uai !!, cadê as ruas dos ricos ?, deve ser a de trás que eu não vi, dai fiz o contorno voltei pela rua de trás e pior ainda, uai, será que é a da frente ?? ...Rodei, rodei. desculpa amigo to atrás da rua dos ricos e não to encontrando...o rapaz é essa mesmo, quer dizer, fora eu que estava vindo lá de São Paulo, da avenida paulista, cosmopolita, urbana de óculos "ray ban" tal, cheguei em Nazaré da barra, e tava na rua dos ricos e tava achando que era a rua dos pobres, tava procurando ainda a rua dos ricos. Então é um choque cultural, ai eu corri atrás, fiquei ali, então eu só fiquei satisfeito depois de suas semanas no mesmíssimo lugar, ai eu já com a cabeça raspada descalço, com bermuda da região, com camiseta da região, tomando sol na cabeça, um carro me parou ali e me chamou pra pedir informação, qual era uma coisa que ele tava procurando, ai...agora sim, acho que passei pela transformação, posso gravar.
Foi uma experiência muito forte, um filme muito forte, muito violento, que vem ai pela frente.

[INSERT] E sobre seu último trabalho na Televisão qual foi a Minissérie Amazônia podes nos falar um pouco?

[CAIO] A televisão finalmente ta descobrindo a importância do projeto de pesquisa, como o teatro e o cinema tem realizado.
A televisão, não é ?, alguém busca, é uma fabrica de pizza. Precisa botar um capitulo por dia, mas uns vinte e sete, tem um pouco a mais desse cuidado, ter essa pesquisa. E a Amazônia foi uma minissérie, um trabalho muito, muito, muito verdadeiro, muito sincero, muitos atores puderam ir pro Acre,ficar lá por muito tempo eu não pude ir.
Mas eles trouxeram pro Rio de Janeiro, vários seringueiros pra ensinar a gente, pra conversar com a gente, pra passar um pouco do conhecimento, da cultura deles. Uma coisa que eles fizeram com a gente, foi soltar dentro da floresta da Tijuca e soltaram a gente lá com os seringueiros. Então a gente entrou na floresta, entrou na mata e ele falou de varias arvores, varias ervas, ensinando a gente como cortar uma seringueira, claro não tinha seringueira lá, mas a gente cortava palmeira, cortava tudo que era arvore, ia aprendendo a cortar o rastro de seringa de arvore.
E mais importante do que tudo, essa tradição dessa cultura, do extrativista, que é essa fonte de viver na floresta, sem matar...sem desmatar, de dentro da floresta e tirando dela seu sustento. Isso eu fiquei muito comovido com essa cultura que eles chamam de povos da floresta, como eles mesmo se denominam, lá no Acre, os povos da floresta, que é essa luta do Chico Mendes de viver da floresta sem desmatar, tirando seus proveitos da relação, sobrevivência com a floresta.
Foi um trabalho muito bonito e isso sem falar da cultura local, de seringal, do Santo Daime, eu acho que é um canto do país que estava lá esquecido, não é ? que essa minissérie resgatou. Contou cem anos da historia da Amazônia, do Acre, da borracha em 2 meses.
[INSERT] Qual Mensagem você deixa para o povo de Fortaleza e especialmente para os nossos internautas?

[CAIO] Que agora é hora de a gente, vendo qual foi a luta da juventude de outras épocas saber como que a gente vai exercer o nosso poder de contestação e transformação na sociedade e ter consciência de que as torturas continuam nas delegacias e que a gente tem que continuar atento. Obrigado.

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Entrevista: Tarcísio Filho, Adriana Paiva e Sara Pontes. Fotos: Sara Pontes e Adriana Paiva
Agradeçemos a toda assistência e carinho da Senhora Lúcia Alencar irmã de Frei Tito e da assessoria do Museu do Ceará e Caio Blat.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns galera...
vcs estão no caminho certo,não estão deixando pra se tornar jornalista apenas quando receberem o diploma.
entrevista bacana.!!!!

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